Apresentação de "Monólogos", de Charles Cros, no Porto



A apresentação de Monólogos, de Charles Cros, o sexto volume da Colecção Avesso, teve lugar no Mira Forum, no Porto, no dia 27 de Outubro de 2018. Com leituras de Alexandre Sá e Regina Guimarães, e a projecção de "Autrefois", filme de adolescência de Saguenail (1969), inspirado no monólogo homónimo de Charles Cros.

Chegou o sexto volume da Avesso

A Colecção Avesso orgulha-se de apresentar a primeira versão em língua portuguesa dos Monólogos, de Charles Cros. Numa magnífica tradução de Regina Guimarães e com prefácio de Saguenail. Já disponível para encomenda no sítio da editora Exclamação e nas melhores livrarias.

Cientista, inventor genial, poeta, mistificador, humorista, galhofeiro, participante em todos os clubes de insubmissos da boémia parisiense da terceira república – os «zutistes», os «hirsutos», os «sujeitos reles», os «hidropatas» –, Charles Cros (1842-1888) cultivou o monólogo como modo de subsistência. Precursor da «stand up comedy», o monólogo tal como Cros o concebeu e lançou, conheceu uma voga efémera – até à primeira guerra mundial – que o submergiu de imitações. No final do século XIX, todos os «homens de letras», dos jornalistas aos académicos, cometeram monólogos. Mas nenhum alcançou a graça e a fantasia criativa de Charles Cros.

Curiosidades em Macau

E temos narrativas de cunho simbolista, de cunho fantástico, de recorte realista, fábulas e até anedotas de amplexo mitológico. É isso que o torna uma fonte de surpresas e profusamente actual – isso e um humor subterrâneo que de vez em quando aflora.

António Cabrita, num texto dedicado a Curiosidades Literárias e Outros Contos, de Rubén Darío, o quinto volume da Colecção Avesso, no jornal Macau Hoje. O texto completo está disponível aqui.
 

O esbatimento de fronteiras entre a prosa e o verso é a grande inovação da narrativa breve de Darío

Segundo os críticos mais severos, um dos principais defeitos da prosa dariana é o facto de ser excessivamente lírica, isto é, nos seus contos e conatos de romance, a linguagem adquire mais importância do que a ficção narrativa, o que resta tensão ao relato, ou seja, o que querem dizer é que há pouca acção nos seus contos.
Claro que o excesso de lirismo não é um traço idiossincrático apenas dos seus contos, mas da sua prosa no geral. Aliás, os editores do conhecido diário bonaerense «La Nación» (do qual Darío foi colaborador desde 1889 até ao ano da sua morte), estiveram prestes a despedi-lo em várias ocasiões, fartos das copiosas referências artísticas, literárias e culturais que inseria nas suas crónicas, que, como género jornalístico, deviam ser objectivas e fáceis de entender.   
Mas, de outra perspectiva, de acordo com a crítica mais recente, este esbatimento consciente de fronteiras entre a prosa e o verso é precisamente a grande inovação da narrativa breve de Darío, uma interpretação com a que concordo plenamente porque, da mesma forma que grande parte da sua prosa é, efectivamente, lírica, muitos dos seus poemas mais conhecidos, como «Sonatina» ou «A Margarita Debayle», são autênticos contos em verso.

Mirta Fernández, na apresentação de Curiosidades Literárias e Outros Contos, de Rubén Darío, no Porto, 5 de Maio de 2018. Texto completo aqui.

Leveza, humor, surpresa e formosura

[Este livro], além do gozo que dá, tem o mérito de mostrar a versatilidade, aperfeiçoamento e mestria da ficção em prosa de Darío. Desde “Os Meus Primeiros Versos” (1886) até “Curiosidades Literárias” (publicado na sua revista parisiense, Mundial Magazine, em Julho de 1913), segue-se a trajectória clara de um contista e prosador que desde cedo soube manipular a linguagem com leveza, humor, surpresa e formosura, sem nunca parar de procurar novos desafios para a técnica. Deve-se esperar destes 24 contos o inesperado, o fantástico, o trágico, às vezes, o cómico o mais das vezes, sempre o Belo com B maiúsculo e musculado.

Luís Miguel Rosa, num longo e suculento artigo, a propósito de Curiosidades Literárias e Outros Contos, de Rubén Darío, disponível aqui.

Cuidadíssima antologia

Com um leque de textos que cobre toda a carreira do escritor (dos 19 anos até às vésperas da morte), esta cuidadíssima antologia mostra-nos a espantosa diversidade de registos, temáticas e fontes de inspiração da prosa de Darío. O vasto espectro vai da ironia mais fina à vinheta trágica, da parábola sarcástica ao delírio lírico. Denominador comum: a inventividade dos relatos e uma espécie de dom féerico para captar atmosferas, com o mínimo de palavras e o máximo de efeito expressivo.

José Mário Silva, no semanário Expresso, de 28 de Abril de 2018.
(Texto online só para assinantes.)



Este a quem Borges chamou um dia "o Libertador"

Se é certo que Darío é menos cotado como prosador que como poeta, estes contos, numa edição que orgulharia a obsessão gráfica que ele tanto cuidou, em versões onde uma certa literalidade é bem doseada a favor de um efeito de estranhamento fiel à sua poética, encontramos a mesma desfaçatez verbal, a mesma insolência formal, a mesma frescura de um poeta com experiência de repórter, de ritmos e cores contagiantes. Em ficções que tematizam a relação conflituosa entre arte e sociedade, fazem a crítica do materialismo capitalista, servem de palimpsesto exuberante de matérias ou literárias, se lançam no género fantástico ou na crónica humorística, celebrando sempre o descaramento imaginativo e formal, encontramos aqui pretextos suficientes para nos deixarmos surpreender por este a quem Borges chamou um dia "o Libertador" e do qual disse ter renovado tudo, temas, vocabulário, ritmos, "a magia peculiar de certas palavras".

Miguel Filipe Mochila, a propósito de Curiosidades Literárias e Outros Contos, de Rubén Darío, no jornal i, de 26 de Abril de 2018. Texto completo aqui.





Ainda antes de chegar às livrarias, o Darío já chegou ao jornal i



Poeta precoce, contista, jornalista e diplomata, Rubén Darío é uma das vozes mais importantes da literatura latino-americana. Nascido em Metapa em 1867, Darío foi desde cedo uma figura tão criativa quanto rebelde. (...) Porém, a falta de traduções da obra do nicaraguano torna-o numa figura das letras hispanas imerecidamente inacessível, tanto na lusofonia como noutros idiomas. Curiosidades Literárias e Outros Contos vem contrariar essa tendência. Trata-se da primeira antologia de textos de ficção de Darío publicada em Portugal. (...) Com prefácio de André Fiorussi (académico especializado na obra de Darío), é o quinto volume da Avesso, colecção pertencente à Editora Exclamação.

Mariano Alejandro Ribeiro, na edição de 26 de Fevereiro de 2018, do jornal i.
Texto completo aqui.